Telessaúde: A chave para a aliança de saúde pública e privada sob o novo governo

Telessaúde: A chave para a aliança de saúde pública e privada sob o novo governo

A telemedicina pertence ao amplo portfólio de serviços enquadrados dentro da telesaúde. Este serviço está associado ao uso da tecnologia para permitir ou facilitar o atendimento médico quando o paciente e seu médico ou equipe de saúde não estão fisicamente localizados no mesmo local. Originalmente, a telesaúde era utilizada para facilitar o acesso do atendimento médico aos pacientes que viviam em áreas rurais; entretanto, com o passar do tempo e como resultado de eventos como a pandemia global Covid-19, esta prática tornou-se ainda mais relevante a fim de ainda poder ser tratada por profissionais de saúde qualificados sem a necessidade de estar fisicamente presente no mesmo local.

Sem dúvida, a telesaúde pode fornecer soluções para certos desafios, tais como a crescente demanda por serviços de saúde, o envelhecimento da população e a necessidade de gerenciar grandes quantidades de dados; mas também ajuda a reduzir as barreiras de acesso à saúde e aumenta a velocidade no recebimento de atendimento médico, o que proporciona maior cobertura e equidade para áreas remotas, como no caso da Colômbia, que tem grandes diferenças de desigualdade entre as áreas rurais e urbanas.*

Um exemplo demonstrando como esta desigualdade é um problema estrutural que é intensificado por variáveis socioeconômicas e a geografia do país é que em áreas remotas ou rurais, o tempo de espera para uma consulta médica geral é de 6 dias, 16 dias para uma consulta de ginecologista e 38 dias para uma consulta pediátrica, em oposição a 2, 8 e 7 dias em áreas urbanas, respectivamente.

Em 2010, a Colômbia começou a estabelecer o marco regulatório para o desenvolvimento da telesaúde em todo o país com a Lei 1419. Ela estabeleceu os princípios básicos como a criação de um Comitê Consultivo de Telessaúde, o desenvolvimento de um mapa de conectividade, através da alocação de 5% dos fundos para fortalecer as telecomunicações necessárias para fornecer cobertura, acesso e poder incluir esses serviços de telesaúde no Plano de Benefícios de Saúde. Entretanto, o Ministério da Saúde não iniciou a regulamentação da telesaúde como uma ferramenta para melhorar o acesso, a capacidade de resolução, a continuidade e a qualidade dos cuidados clínicos até a instalação da Resolução 2654 em 2019.

Finalmente, até a chegada da pandemia, houve uma série de esforços concretos para acelerar a integração destes serviços de saúde, especialmente no IPS como uma ferramenta para proporcionar continuidade do atendimento. Em dezembro de 2021, apenas 4,27% dos IPSs autorizados a operar no país prestavam serviços através da telemedicina em 370 municípios. Isto equivale a 3.368 clínicas e hospitais facilitando mais de 12.500 serviços de telemedicina, dos quais apenas 331 estão sendo oferecidos pelo setor público.

No entanto, a telemedicina e a telesaúde não se traduziram necessariamente em uma melhor cobertura e acesso em todo o país. Na Colômbia, os hospitais públicos atendem principalmente áreas rurais e de difícil acesso, onde os serviços médicos oferecidos através da tecnologia não têm sido capazes de impactar a população de forma significativa.

Fonte: Elaboração baseada em dados do Registro Especial de Prestadores de Serviços de Saúde – REPS (2021).

Após analisar os números, pudemos identificar que os serviços de telemedicina oferecidos pelos IPSs Públicos aumentaram 25,4% enquanto os privados aumentaram 281,5% entre 2019 e 2021. Estas diferenças também são evidentes no que diz respeito à cobertura a nível territorial. Dos 3.368 IPS que prestavam serviços de telemedicina, 76% (2.500) estavam localizados em Antioquia, Bogotá, Valle del Cauca, Cundinamarca, Santander, Barranquilla, Córdoba, Nariño, Cartagena e Cesar. Enquanto isso, em áreas mais remotas como o Amazonas, Guainía, Guaviare, Vaupés e Vichada, havia apenas 58 instituições que ofereciam serviços de telemedicina.

Além disso, há outros fatores a serem considerados, como as lacunas na conectividade. Por exemplo, é claro que 56,5% do país tem serviço de Internet, mas, nas cidades maiores, este percentual é de 66,5%, enquanto nas áreas rurais povoadas e dispersas é de apenas 23,8%, tornando complicada a apropriação e o uso da telemedicina. Esta situação fornece uma prévia dos desafios que o país enfrenta em termos de acesso, cobertura e implementação da telemedicina, especialmente se a telemedicina for supostamente a principal alternativa para fechar as significativas lacunas de desigualdade do país.

O novo governo pretende estender a saúde primária a toda a nação, e a telemedicina desempenhará um papel importante a este respeito. Além disso, o governo expressou a necessidade de investir em educação e tecnologia a fim de construir um conhecimento de alta qualidade, como no campo da telemedicina. Isto proporciona uma oportunidade para conversas entre os setores privado e público a fim de gerar capacidades e transferência de conhecimento suficiente que permitirá uma maior apropriação e utilização destes serviços na Colômbia. Além disso, o acima exposto deve ajudar a fortalecer as capacidades do IPS público, já que proporciona maior cobertura em territórios de difícil acesso e onde realmente pode ser consolidado como uma alternativa para melhorar o atendimento da população em geral, bem como gerar maior equidade e eficiência nos serviços de saúde.

É exatamente isso que o setor privado deve abordar no novo contexto nacional; isto é, encontrar oportunidades de trabalho conjunto em que as capacidades, ferramentas e conhecimentos prontamente disponíveis possam contribuir efetivamente para resolver os desafios socioeconômicos que o sistema nacional de saúde enfrenta em linha com os objetivos do novo governo, mas acima de tudo, em benefício do desenvolvimento do país e da saúde de todos os colombianos.

*https://www.bancomundial.org/es/topic/health/publication/external-assessment-of-quality-of-care-in-the-health-sector-in-colombia

Santiago Rivas GarcíaConsultor de Asuntos Públicos LLYC

Luisa Fernanda Ortíz QuiñónezGerente de Asuntos Públicos LLYC

Santiago Rivas GarcíaConsultor de Asuntos Públicos LLYC
Luisa Fernanda Ortíz QuiñónezGerente de Asuntos Públicos LLYC